Existem duas antigas teorias sobre o modelo de desenvolvimento humano - linear e cíclica. Ambas dominam alternadamente nas percepções humanas, ambas têm a justificação científica, e ambas não negam que a história ascendente de qualquer sociedade é impossível sem reformas, reorganizações, transformações e, se necessário, revoluções - uma mudança radical e rápida em todo o sistema.
Existem duas antigas teorias sobre o modelo de desenvolvimento humano - linear e cíclica. Ambas dominam alternadamente nas percepções humanas, ambas têm a justificação científica, e ambas não negam que a história ascendente de qualquer sociedade é impossível sem reformas, reorganizações, transformações e, se necessário, revoluções - uma mudança radical e rápida em todo o sistema.
No almanaque histórico de Portugal, uma página nova foi lançada em 25 de Abril de 1974. Na crónica ucraniana do turbulento século XX, os ucranianos tiveram a oportunidade de fazer mudanças meio século antes, no final da segunda década.
No entanto, se a Revolução dos Cravos pôs fim à ditadura e contribuiu para o desenvolvimento de uma sociedade democrática, a revolução ucraniana de 1917-1921 falhou.
Em 1917, a Ucrânia, sem o seu próprio Estado e integridade territorial, foi dividida entre dois impérios vizinhos - russo e austro-húngaro. As lutas de libertação ucraniana começaram nas condições dos tumultos revolucionários que varreram o Império Russo. Em março de 1917, foi criado o órgão de representação nacional dos ucranianos - Conselho Central Ucraniano. Em maio, foi formado o primeiro Governo ucraniano. Em 20 de novembro de 1917, o Conselho Central proclamou a criação da República Popular da Ucrânia, formalizando legalmente o seu próprio Estado.
E, embora na Ucrânia já existissem certos conceitos de independência, das formas de poder e tipo de Estado, no entanto, a "intelligentsia" ucraniana, principalmente artística, literária, científica e política, pensava em categorias de alta moralidade. A questão, que não encontrou resposta, era como ultrapassar os limites do humanismo para ganhar a luta pelo poder.
https://www.jn.pt/opiniao/convidados/interior/revolucoes-e-identidade-8931612.html
Mas os inimigos do Estado ucraniano não se preocupavam com os valores espirituais. Em 1921, depois de várias guerras da Rússia soviética com a República Popular da Ucrânia, quase todo o território da Ucrânia estava sob o controlo do ocupante. A Paz de Riga, assinada em março do mesmo ano entre os governos soviéticos da Rússia, Ucrânia e Polónia, na realidade pôs fim aos planos de independência da Ucrânia. Mais cedo, em 1918, a Roménia ocupou Bukovyna e em 1919 Transcarpátia mudou-se para a Checoslováquia. O destino da Galiza Oriental foi resolvido em 1923, na Conferência de Paris - foi anexada à Polónia.
No entanto, a aspiração do povo ucraniano pela independência permanecia invencível e este sonho foi realizado só no fim do século XX.
Em 2 de outubro de 1990, em Kiev, na Praça da Independência (então praça da Revolução de Outubro), os estudantes declararam greve de fome, apresentando uma série de exigências políticas: recusa da liderança republicana para assinar um novo Tratado da União, transferência de bens do Partido Comunista para as autoridades locais, reeleição do Parlamento.
A Revolução Laranja (novembro de 2004), que foi a reação do povo às falsificações massivas que afetaram os resultados das eleições presidenciais, acabou com o domínio da antiga nomenclatura do Partido Comunista, que tradicionalmente procurava conquistar a sociedade, usando métodos autoritários de gestão.
O período entre 21 de novembro de 2013/ fevereiro de 2014 é conhecido no Mundo como a Revolução da Dignidade. Desta vez, a resistência do povo ucraniano foi provocada pelo facto dos altos dirigentes da Ucrânia se recusarem seguir o curso pró-europeu e assinar o acordo de associação UE-Ucrânia. A Revolução Ucraniana da Dignidade mudou o país. Os seus ideais, esperanças e decisões mudaram radicalmente a mentalidade dos ucranianos, que começaram e continuam a formar uma nova identidade política.
Novamente a liderança russa, como há um século, não estava preocupada com ideais humanísticos e utilizou a situação de instabilidade interna do país para concretizar os seus planos imperialistas - ocupar a Crimeia e provocar o conflito no leste da Ucrânia alimentando-o com a intenção que se transformasse num conflito congelado para manter a Ucrânia dentro da zona da sua influência.
Porém, a Ucrânia atual é diferente e o povo ucraniano é mais forte. Desta vez, conseguimos defender a nossa independência, contando certamente com a ajuda e o apoio da comunidade internacional.
CÔNSUL, CHEFE MISSÃO UCRANIANA DE PORTUGAL